Fora do Armário: Porquê que ainda é importante celebridades fazerem o Coming Out
- Luís Peixoto e Pedro Terrentaz
- 26 de mai. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 14 de jun. de 2021
Foto de capa por Aya Francisco em Tofugo
Nos últimos anos são várias as celebridades que têm usado as suas plataformas para lutar por direitos LGBTQI+, mas são também muitas aquelas que passaram a fazer parte da comunidade. O conhecido “coming out” é um marco e um passo dado por quase todos os seus membros. Demi Lovato é a celebridade mais recente a juntar-se à lista.
A lista é longa e conta com vários nomes: Sam Smith, Ruby Rose, Elliot Page, Laverne Cox e até Lil Nas X. Apesar de trabalharem em diferentes artes e terem identidades e orientações distintas, têm todos algo em comum: fazem parte da comunidade LGBTQI+. Por serem celebridades e possuírem uma plataforma que alcança milhões de pessoas, todos eles tiveram o seu momento para “sair do armário”.

Cantore e atore influente, Demi Lovato já pertencia à comunidade LGBTQI+, identificando-se como bissexual. Contudo, no passado dia 19 de maio, fez o coming out enquanto pessoa não-binárie. Num episódio do podcast que criou e apresenta, Lovato refere que vai passar a usar os pronomes they/them, elus, delus em linguagem neutra portuguesa. “Eu acho que isto representa melhor a fluidez que sinto na minha expressão de género e permite-me ser mais autêntique e verdeire para a pessoa que sei que sou e ainda estou a descobrir”, afirma Lovato.
Demi Lovato/ Instagram
Este acontecimento teve repercussões imediatas e as pesquisas sobre não-binariedade aumentaram substancialmente, visto que Lovato é uma das personalidades mais influentes do momento. As críticas e a demonstração de apoio não demoraram a surgir, dominando a comunicação social. A este respeito, Joanna Truman, autora e filmmaker, confessou à CBC News o impacto que o ato terá em educar e ajudar as pessoas: "Mesmo para pessoas que não sabem muito sobre elus [pessoas não binárias] descobrirem isto e descobrir coisas sobre a identidade não binária ou coisas com as quais não estavam familiarizados... é uma grande coisa". Oskar Blasi, estudante e artista, de Springfield, espera que a revelação ajude igualmente, outros a entender a comunidade non-binary e transgénero: "Faz-nos sentir vistos", afirma. Já Courtney Stodden, modelo, contou ao TMZ que esta notícia ajudará a comunidade a sentir-se representada e que fará com que aqueles que continuam a lutar se sintam mais confiantes para se aceitarem - o que irá contribuir para a prevenção do suicído.
Apesar de viverem com um privilégio mais acentuado que cidadãos sem o estatuto de celebridade, o coming out acaba por ser, por vezes, um momento unificador para com os fãs. Muitos acabam por se sentir inspirados pelas atitudes das celebridades que acompanham e fazem os seus próprios coming outs, pois sabem que não estão sozinhas. Shelley Craig, Presidente de Pesquisa do Canadá em Jovens de Minorias Sexuais e de Género na Universidade de Toronto, refere que esta perceção que vários jovens queer têm de celebridades como modelos os faz sentir “ valorizados". O diretor de operações da Pride Toronto, Bobby MacPherson, garante que para alguém que se identifique como não-binárie, as notícias do coming out de Demi Lovato são "edificantes".
Numa entrevista ao Metro.co.uk, Jeff Ingold da Stonewall refere que o processo de assumir-se pode ser curativo e educacional: “Para muitas pessoas LGBT, elas nem sempre se vêem necessariamente no que assistem ou aprendem sobre as pessoas LGBT na escola”. “Então, quando tens alguém em público que fala sobre as suas experiências, pode significar muito para ti, pode mudar a maneira como tu te vês”, acrescenta.
Embora muitas figuras públicas ainda aproveitem os media tradicionais para partilhar esse momento marcante, a chegada das redes sociais reestruturou a história das celebridades na hora do coming out. “As redes sociais permitiram que celebridades e figuras públicas controlassem as suas próprias narrativas, e isso inclui assumir-se”, disse Trish Bendix, editora-gerente do website de notícias LGBTQ INTO, à NBC News. Aplicações como Instagram, Twitter e Facebook deixaram de ser só um hub para se saber mais sobre a vida das celebridades, passando a ser um lugar importante para pessoas comuns revelarem a identidade ou orientação sexual a um grupo mais amplo de conhecidos ou até mesmo para se conectarem com a comunidade LGBTQ+. Grande exemplo disso é também a plataforma de partilha de vídeos, Youtube, onde vários influencers publicaram vídeos a fazer o coming out.
Ingrid Nielson/ Youtube
A presença de pessoas non-binary e transgénero sempre existiu, no entanto, as celebridades têm o poder de criar verdadeiros impactos na sociedade. Recentemente, o ator Elliot Page anunciou ser transgénero, novidade que deixou a comunidade trans inspirada: "Elliot Page é um líder e um farol de esperança para inúmeras pessoas trans e não-binárias neste momento, e somos gratos por ele", escreveu a ativista americana Charlotte Clymer no Twitter.
Charlotte Clymer/ Twitter
Quanto mais estrelas surgirem, melhor, porque os exemplos trazem esperança para os que lutam: "O mais importante aqui é que ter alguém com esse talento e renome aparecendo só vai impactar pessoas reais", disse Mara Keisling, diretora executiva do National Center for Transgender Equality. O relatório Nation Survey on LGBTQ Youth Mental Health 2020, concluiu que mais de 80% dos jovens confessaram que as celebridades LGBTQ impactam positivamente os seus sentimentos por fazerem parte da comunidade LGBTQ. O diretor de treinamento público do The Trevor Project, Chris Bright, alertou para a importância dos adolescentes terem alguém que admiram a compreendê-los: "E ter alguém que diz, 'Esta é a minha verdade. Esta é a minha história', significa o mundo para muitos jovens trans e não-binários que estão a lutar para encontrar esses modelos e pessoas que se identificam de maneiras semelhantes a eles", revelou ao USA TODAY.
Outro marco importante na comunidade LGBTQI+, mais especificamente na comunidade trans, revelado por Ira Bare na CBC News, um artista e estudante de Boston, foi quando a atriz Laverne Cox, em 2014, apareceu na capa da Time Magazine. No entanto, afirma que "Embora a visibilidade seja importante, as celebridades devem fornecer algum tipo de recurso especificamente para os jovens...[ou] devem começar a falar mais sobre tópicos que nos afetam".
Laverne Cox/ Twitter
Tal como aconteceu com outras celebridades, o coming out de Demi Lovato como não-binárie torna-se num marco para a comunidade LGBTQ+. Alguém com uma plataforma como Lovato, vai ajudar a destacar uma comunidade que ainda se vê escondida atrás das paredes, mas que tem crescido muito nos últimos anos.
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