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Do Espelho para o Ecrã: a esperança de um dia ser representado

  • Foto do escritor: Pedro Terrentaz
    Pedro Terrentaz
  • 3 de mai. de 2021
  • 5 min de leitura

Atualizado: 14 de jun. de 2021


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Alison Czinkota / Verywell

Ser representado e sentir-se representado sempre foram dois temas de elevada importância para o ser humano. Com a capacidade de o ajudar a desenvolver-se enquanto indivíduo, a representatividade age como um auxiliar no processo de modelagem do mesmo. No entanto, nem todos têm a sorte de se verem totalmente representados no ecrã. O Sui Generis esteve à conversa com três jovens que se identificam como não binário, agénero e género fluído para perceber como é não ser representado e os problemas que isso traz.


Skye é estudante universitárie e identifica-se com o género-fluído. Este encaixa-se no espectro não binário, o que significa que se está fora da “caixa” binária e/ou cisnormativa. Isto é, não se identificar como homem ou mulher e o que está associado a essas palavras.


Para Skye a falta de representatividade torna todo o processo de aceitação mais difícil. “Falta de informação tanto escrita como visual leva-me a mim mesmo a invalidar-me. Já é difícil ter de lutar pela existência da minha identidade devido à discriminação de outras pessoas, mas com tão pouca representatividade tenho de estar constantemente a lembrar-me que o que eu sou é válido”. Apesar de não negar que há mais “representatividade hoje do que em qualquer outra altura”, Skye acredita que ainda se pode e deve fazer mais. “Existem muitas mais pessoas como eu e temos todos direito a querer ver alguém como nós seja num livro ou numa série”, afirma.


O sentimento de invisibilidade é também partilhado por Alex que se identifica como não binário. Para o jovem a pouca representatividade de não bináries leva a que “as pessoas binárias possam ter noções erradas ou até não existentes sobre o que é ser-se não binário”. Numa nota mais pessoal, o tradutor de 23 anos refere que a falta de representatividade faz com que as pessoas “esperem androginia de mim, quando não é algo que pretendo alcançar constantemente”. “Ou até que as pessoas estranhem por me identificar como não binário e nem sempre utilizar pronomes neutros”, acrescenta.


A comunidade LGBTQ+ é um dos exemplos da existência de falta de representatividade. Apesar de ao longo dos últimos anos ter vindo a ganhar cada vez mais espaço no mundo do entretenimento, continua a não ser representada na totalidade ou então é mostrada de forma errónea. A relação mantida entre a comunidade e o cinema e a televisão nem sempre foi a melhor, mas tem melhorado. De ano para ano surgem cada vez mais personagens que se identificam como lésbicas e gays, abrindo os horizontes do grande público e deixando que outros se sintam validados.


Segundo o relatório de Responsabilidade dos Estúdios da GLAAD (Aliança Gay e Lésbica contra a Difamação) de 2020, dos 118 filmes lançados por grandes estúdios, apenas 22 incluíam personagens que se identificavam como lésbicas, gays e bissexuais. Este foi o resultado mais alto desde que o relatório é feito. Contudo, fora do grande e pequeno ecrãs ficam as restantes orientações sexuais e identidades. Bissexuais, transgénero, não bináries, e as identidades que o termo engloba, são na grande parte das vezes deixadas à porta dos estúdios. Dos 118 filmes de nove estúdios diferentes nenhum deles continha personagens transgénero ou não bináries. Porém, quatro personagens do número total de filmes foram protagonizades por profissionais transgénero ou não binárie.


Apesar de nos grandes estúdios de Hollywood os resultados não serem muito animadores, no mundo da televisão e streaming a realidade é um pouco diferente. A série americana Pose, do canal FX, disponível em Portugal através da HBO e Netflix, fez história. A produção de Janet Mock e Ryan Murphy foi a primeira a ter o maior elenco de profissionais transgénero regulares. RuPaul’s Drag Race, programa televisivo conhecido mundialmente, veio também ajudar à causa. No streaming, séries como One Day at a Time, The Good Place e Zoey’s Extraordinary Playlist deram também a oportunidade a indivíduos não binárie de se verem representados.


Por Portugal a realidade não é muito diferente, tirando o facto de não existirem, nos conteúdos produzidos para as grandes telas e televisões qualquer tipo de personagem LGBTQ+. J. Paz identifica-se como agénero e à semelhança de Skye é estudante. Apesar de terem histórias e experiências diferentes, a dificuldade de se verem representades acaba por uni-les. “Se já é difícil encontrar representação de pessoas não binárias em filmes/séries, então agender é mesmo impossível”, afirma. “O mais próximo que recomendaria seria Steven Universe”, refere J. Paz, fazendo alusão à série de cartoons que está disponível no Cartoon Network e que foi abordada por todes xs entrevistades.


Tal como para Alex e Skye, não se ver representade foi um problema para Vi que se identifica como agender. “Ao nunca ter tido visto algo/alguém que se encaixasse numa identidade não binária ao crescer sentia que a minha identidade tinha de cair dentro do binário de masculino e feminino, algo que causou imensos problemas, especialmente no início da puberdade, pois eu sabia que não era um rapaz mas não sentia exatamente que era uma rapariga”.


No meio da falta de representação acabam por existir outros problemas. Skye reconhece que “temos de começar por um lado, é claro que sim”, mas gostava de ver mais diversidade nas gravações, pois a grande parte das personagens são “maioritariamente brancas ou magras”. Skye afirma que “ser este o único tipo de não binário representado é muito prejudicial para quem se identifica com esta identidade e até para pessoas que simplesmente estão a explorar a sua identidade de género. Não binário é tudo e mais qualquer coisa. Qualquer raça, qualquer tipo de corpo, qualquer pessoa”.


Mas a lista não se fica por aí. Para Alex, a principal falha a apontar é que, “muitas vezes, as personagens não binárias têm uma androginia muito forçada. Muitas pessoas não binárias não têm uma apresentação andrógina. Na media, personagens não binárias são, geralmente, ou sempre andróginas, ou alienígenas”. Afirmação com a qual Vi concorda. Vi afirma que uma das grandes falhas é a “perpetuação de estereótipos que fazem com que personagens com identidades não binárias sejam objetos ou seres não humanos”.


Até ao momento continuam a ser poucas as personagens que se identificam como LGBTQ+, mas existem planos para que tudo mude. Segundo a GLAAD, as audiências de pessoas queer são das mais poderosas para a indústria e há metas e recomendações para que haja melhorias no setor do entretenimento até 2024, nos Estados Unidos.


“O cinema tem o poder de educar, esclarecer e entreter os espectadores de todo o mundo, e hoje, num clima cultural e politicamente dividido, temos de priorizar a necessidade de contarmos histórias LGBTQ, e as histórias de pessoas marginalizadas”, disse Sarah Kate Ellis, a presidente e CEO da GLAAD, numa conversa com o Deadline.


aqui as séries recomendadas pelos entrevistados.

 
 
 

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